quinta-feira, 25 de março de 2010

Como funciona o jiu-jitsu

Arte suave. Quem olha de fora, acha um pouco estranho, mas o jiu-jitsu procura ser exatamente isso: uma luta gentil que, bem executada, não causa danos aos seus praticantes.

A sua definição, em japonês, procura explicar um pouco sobre a mais antiga das artes marciais. No jiu-jitsu tudo pode acontecer, e por isso ele é um dos esportes mais intrigantes que existem. Essa é uma das poucas lutas onde os mais fracos têm possibilidade de derrotar os mais fortes, bastando para tal, aplicar a técnica e o golpe correto.

Os estudiosos das artes marciais vão além, e dizem que o jiu-jitsu é a mais pura aplicação científica em uma arte marcial. Aqui, se aplicam literalmente as leis da física, como sistema de alavanca, momento de força, equilíbrio, centro de gravidade - tudo isso aliado a um amplo estudo dos pontos vitais do corpo humano.

Tatame



O praticante de jiu-jitsu aprende golpes que forçam o seu adversário a desistir da luta, sem machucá-lo. Para tanto, os lutadores de jiu-jitsu treinam golpes que imobilizam os seus oponentes. A idéia básica no jiu-jitsu é utilizar o peso e a força de seu adversário contra ele mesmo. E, um dos pontos que mais o diferem das outras artes marciais está no fato de que, no jiu-jitsu, a grande maioria das finalizações acontece no chão.

Infelizmente, episódios negativos protagonizados por alguns que se dizem praticantes de artes marciais acabaram manchando a imagem do esporte e muita gente ainda associa o jiu-jitsu a uma luta agressiva e violenta. Mas, se voltarmos à definição inicial de arte suave e unirmos a ela a história dessa arte marcial, que tem nos monges budistas indianos os seus primeiros praticantes, veremos que a realidade é outra.

Neste artigo você ficará por dentro da história do jiu-jitsu, regras e categorias de competições, sistema de graduação, técnicas e golpes utilizados e muito mais.

Regras e competições

A modalidade de jiu-jitsu na qual os praticantes lutam contra adversários durante uma competição é chamada de jiu-jitsu desportivo. No jiu-jitsu desportivo não se aplicam golpes traumáticos, e sim torções, imobilizações, projeções, etc.

Quem organiza as competições de jiu-jitsu em território nacional é a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, que foi fundada em 1994, por Carlos Gracie Júnior. Em março de 2007 foi fundada também a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo. Juntas, elas criaram o regulamento de competições que já está bastante consolidado e serve de modelo também para competições internacionais.

Gracie


Conheça alguns importantes tópicos das regras de jiu-jitsu:

Área de competição

Também denominada de ringue, a área deve ter entre 64 e 100 m2, sendo que obrigatoriamente 36 m2 devem ser de área interna (área de combate). O restante é chamado de área de segurança. Os tatames da área de segurança devem ser de cor diferente dos tatames da área de combate.

Área de  competição



Sistema de graduação

Branca iniciante, qualquer idade
Cinza 4 a 6 anos
Amarela 7 a 15 anos
Laranja 10 a 15 anos
Verde 13 a 15 anos
Azul 16 anos e acima
Roxa 16 anos e acima
Marrom 18 anos e acima
Preta 19 anos e acima
Vermelha e preta
Vermelha


As faixas branca, cinza, amarela, laranja, verde, azul, roxa e marrom são divididas em 5 níveis de graduação - faixa lisa e mais 4 graus, sendo de responsabilidade do professor conceder esses graus em cada uma dessas faixas. Já a faixa preta é subdividida em sete diferentes níveis de graduação: faixa preta lisa e mais 6 graus que são concedidos exclusivamente pela IBJJF (International Brazilian Jiu-Jitsu Federation).

Um atleta que é faixa preta só pode requerer a faixa vermelha e preta após 7 anos no 6º grau da faixa preta. O mesmo vale para o atleta da faixa vermelha e preta requerer faixa apenas vermelha. A faixa vermelha 10º grau é conferida apenas aos pioneiros do jiu-jitsu: Carlos, Oswaldo, George, Gastão e Hélio Gracie - os irmãos Gracie.

Arbitragem e placar

Cada combate é conduzido por um árbitro central, que por sua vez é supervisionado por uma comissão de arbitragem. De acordo com a técnica e golpe aplicado, o árbitro faz determinado gesto que é interpretado pelo mesário, que por sua vez lança a pontuação no placar. Não há empate no jiu-jitsu – toda luta é decidida por desistência, desclassificação, perda dos sentidos, pontos ou vantagem. Veja como funciona a pontuação:

Vantagem: após o término do tempo da luta o árbitro poderá dar uma vantagem para o atleta que estiver em posição que vale ponto, ou para o atleta que estiver em uma posição de finalização encaixada.

Ponto: para o atleta receber um ponto, é necessário que ele domine o adversário por 3 segundos na mesma posição.

Pontos

Equipamento

Os competidores de jiu-jitsu devem obrigatoriamente utilizar quimono. Os quimonos podem ser de cor preta, azul ou branca e não podem ser misturados, ou seja, a calça tem que ser da mesma cor do paletó. A faixa deve ter entre 4 e 5 cm de largura e deve ser amarrada na cintura com um nó duplo, impedindo o paletó de ser aberto.

Não é permitido o uso de camiseta sob o paletó, assim como sapatilhas e protetores de orelha. As unhas devem estar curtas. Isso mesmo, antes do início da luta o medidor verifica o tamanho do comprimento das unhas dos lutadores assim como o estado da faixa e do quimono, que devem estar devidamente limpos.


Categorias e duração das lutas

Categoria Faixa etária Duração
Pré mirim 4, 5 e 6 anos 2 min
Mirim 7, 8 e 9 anos 3 min
Infantil 10, 11 e 12 anos 4 min
Infanto-juvenil 13, 14 e 15 anos 4 min
Juvenil 16 e 17 anos 5 min
Adulto 18 a 29 anos Branca - 5 min
Azul - 6 min
Roxa - 7 min
Marrom - 8 min
Preta - 10 min
Master 30 a 35 anos
Azul - 5 min
Roxa - 6 min
Marrom - 6 min
Preta - 6 min
Sênior 1 36 a 40 anos 5 min
Sênior 2 41 a 45 anos 5 min
Sênior 3 46 a 50 anos 5 min
Sênior 4 51 a 55 anos 5 min
Sênior 5 56 em diante 5 min

Competições

O Campeonato Brasileiro é o evento mais tradicional da CBJJ, pois engloba todas as faixas etárias e graduações. Outro evento bastante consagrado no Brasil é o Campeonato Brasileiro em Equipes, no qual cada academia pode inscrever uma equipe com sete atletas, sendo cinco titulares e dois reservas. O técnico de cada equipe enumera seus lutadores de 1 a 5 e na hora do confronto , luta o 1 com o 1, o 2 com o 2 e assim por diante. A academia que obtiver três vitórias em cinco confrontos avança na chave.

Gracie



Outras competições também são famosas no esporte, como o Campeonato Mundial de Jiu-Jitsu, que desde a sua criação, em 95, só não foi realizado no Brasil uma única vez (2007). Além do Mundial, outros torneios reúnem grandes lutadores como o Campeonato Europeu, Campeonato Asiático, Campeonato Pan-Americano, além do Campeonato Internacional de Masters e Sêniors.

Técnicas e golpes de jiu-jitsu


O jiu-jitsu possibilita a um adversário mais fraco vencer um adversário mais pesado através do uso de uma boa técnica. O praticante de jiu-jitsu aprende golpes que forçam o seu adversário a desistir da luta, sem que seja necessário machucá-lo.

Os golpes mais freqüentes no jiu-jitsu envolvem as articulações, estrangulamentos, imobilizações, torções e alavancas. Os golpes válidos são aqueles que procuram neutralizar, imobilizar, estrangular, pressionar, torcer articulações e lançar o adversário ao solo através de quedas. Existem, porém, golpes que não são válidos e são considerados desleais, como morder, puxar cabelo, enfiar os dedos nos olhos, atingir os órgãos genitais ou ainda torcer dedos.

Conheça algumas das técnicas mais aplicadas:

- Projeção/queda

É qualquer desequilíbrio do adversário que faça-o ser projetado ao chão, tanto de costas como de lado. Na luta em pé, é válido quando o adversário cai na área de segurança, desde que o atleta que aplicou o golpe tenha dado início ao mesmo com os dois pés dentro da área de combate.

- Baiana

O atleta agarra nas pernas do adversário levando-o ao chão.

- Passagem de guarda

É quando o atleta fica por cima do adversário. Ele pode até mesmo estar entre as pernas do adversário, preso ou não. Se ele estiver por cima de apenas uma perna e preso pela outra, é considerada “meia guarda”. A passagem de guarda propriamente dita ocorre quando o atleta toma o lugar do adversário, mantendo-o dominado e deixando-o de lado ou de costas para o chão.


Imagem cedida pela Academia Gracie Barra
Passagem de guarda

Imagem cedida pela Academia Gracie Barra
Passagem de guarda

- Pegada pelas costas

Ocorre quando o atleta pega seu adversário pelas costas, apoiando os seus calcanhares nas coxas do adversário. Para valer ponto, os dois calcanhares devem obrigatoriamente estar pressionado a parte interna da coxa do adversário.

- Joelho na barriga

Ocorre quando o atleta que está por cima do adversário coloca o joelho na barriga dele. Nesse momento a outra perna deve estar flexionada, com os pés no solo. Além disso, é necessário segurar o braço, a gola ou a faixa do adversário, dominando-o completamente.

- Montada

Acontece quando o atleta monta em cima de seu adversário, deixando seus joelhos e pés no chão. O adversário poderá estar de frente, de lado ou até mesmo de costas. A montada poderá acontecer sobre um dos braços do adversário, mas nunca sobre os dois – nesse caso não será considerada válida.

- Raspagem

Ocorre quando o atleta que está por baixo, consegue prender o seu adversário dentro de suas pernas e rapidamente desequilibra-o para o lado, invertendo a posição. Só é considerado válido como raspagem se o golpe tiver início dentro da guarda ou meia guarda (prender o adversário por apenas uma perna).


Imagem cedida pela Academia Gracie Barra
Raspagem

Imagem cedida pela Academia Gracie Barra
Raspagem

História


O jiu-jitsu ou jiu-jítsu, também conhecido pelas grafias jujutsu ou ju-jitsu (em japonês 柔術, transl. , "suavidade", "brandura", e jutsu, "arte", "técnica" (jiu jitsu é a denominação da arte e jiu "jutsu" é a denominação da arte de guerra)é uma arte marcial japonesa que utiliza alavancas e pressões para derrubar, dominar e submeter o oponente, tradicionalmente sem usar golpes traumáticos, que não eram muito eficazes no contexto em que a luta foi desenvolvida, porque os guerreiros (bushi) usavam armaduras.

No Japão, o termo judô foi usado para se diferenciar do antigo jiu-jitsu, quando Jigoro Kano desenvolveu um método esportivo reunindo as técnicas menos perigosas do jiu-jtsu. Os ideogramas Kanji japoneses de Jiu jitsu, podem receber diferentes pronúncias. O ideograma "jiu" de jiu-jitsu (柔術) e "ju" de judô (柔道), são na verdade o mesmo.

Mitsuyo Maeda o Conde Koma, foi praticante e estudioso do antigo jiu-jtsu e ao visitar a escola Kodokan finalizou por ippon 8 faixas preta em sequência, tornando-se faixa preta(3dan) no estilo Kodokan, que conhecemos hoje como judô.

O Judo Kodokan é um estilo forte hoje em dia, devido às ligações políticas de Jigoro Kano, mas no início, os lutadores do estilo Kosen (estilo com enfoque em Newaza, técnicas de chão) foram superiores nos campeonatos, fazendo com que as regras fossem mudadas para que não fossem mais permitidos os golpes no chão.

Maeda foi incumbido de levar o judô para algumas partes do mundo chegando nos EUA e Brasil.

Em suas lutas pelo mundo, sempre aprendia e incorporava técnicas ao seu estilo, e também lutava em exibições, motivo pelo qual foi expulso da Kodokan. Entretanto, com a popularidade do jiu-jitsu, algumas fontes o citam como judoca kodokan no intuito de desmerecer o Gracie JiuJitsu.

Todas as formas de Arte marcial japonesas atuais são "restauradas" tendo em vista que seus idealizadores foram contemporâneos, como Jigoro Kano (Judo), Morihei Ueshiba (Aikidô)e outros mais novos como mestre Oyama (kiokushin). Estes estilos foram fundados por volta de 1900 como produtos de exportação do Japão para os gaijin, sendo então estilos desmembrados e deslocados dos contextos antigos, para ensinar técnicas isoladas, uma maneira de não perder a hegemonia nas artes marciais.

Basicamente usa-se a força (própria e, quando possível, do próprio adversário) em alavancas, o que possibilita que um lutador, mesmo sendo menor que o oponente, consiga vencer. No chão, com as técnicas de estrangulamento e pressão sobre articulações, é possível submeter o adversário fazendo-o desistir da luta (competitivamente), ou (em luta real) fazendo-o desmaiar ou quebrando-lhe uma articulação.